quarta-feira, 28 de novembro de 2012

DO CONCEITO AO COMERCIAL


"Na temporada internacional do verão 2013, o duo sonho e vida real teve um equilíbrio perfeito. As grandes maisons de Nova York, Londres, Milão e Paris, impulsionadas pela crise europeia e pelas necessidades do mercado, se renderam ao que muitos tacham de "moda comercial". Quer saber? Acho ótimo. É bom ter na passarela o suprassumo da imaginação, que arranca "ohs" surpresos e deslumbrados, em looks que despertam o impulso imediato do "eu quero". É bom ver que a moda com M maiúsculo, que sai das mãos dos top criadores, está mais usável e possível, sem perder qualidade, poder de sedução, beleza e brilho. Isso é competência!"

Lenita Assef
Diretora da Elle Brasil


Muita gente não entende o que se passa nas passarelas européias. Um excesso de cores, texturas e elementos exagerados que os grandes estilistas usam, parecem um absurdo aos olhos leigos. Pois estes exageros são as tendências que eles estão ditando. Você não precisa comprar uma roupa que parece um pinheirinho de Natal ou que fique parecendo com um pássaro selvagem roxo maluco. É apenas uma "dica" que eles querem passar (ou ditar) do que estará em "alta" na próxima estação. Ou seja, o roxo (no caso do pássaro selvagem) vai ser a cor do momento, em harmonia com alguns elementos feitos em penas (onde você pode encontrar em acessórios, como brincos, bolsas, etc.). É tudo subentendido, quase que uma mensagem subliminar. Mas muitas grifes comercializam algumas loucurinhas dessas, como por exemplo o finado e brilhante Alexander McQueen.






Pode ser, por exemplo, que alguma outra grife compre o direito de usar a estampa no sapato acima para aplicar em um lenço. Aí você começa entender o que significa a expressão "ditar a moda".

Claro que ele tinha peças extremamente comerciais, mas ele vendia coisas como essas, das fotos acima que são um tanto quanto... exóticas. E quem é fã incondicional do McQueen? Lady Gaga, é claro! 
Ele dizia: “Meus desfiles eram provocantes por uma razão: a necessidade de se fazer notar. Eu não preciso mais fazer isso, mas ainda acredito que tenho os meus 20 minutos para chamar a atenção das pessoas. Você pode não gostar do que faço, mas ao menos o que faço leva você a pensar.” Pensar: um dos propósitos de uma obra de arte é fazer o expectador pensar, moda é assim também.

Tudo começa com uma idéia, um tema, uma estampa ou tipo de tecido, a partir disso criam-se ramificações que evoluem para a coleção completa. Quando falamos de conceito, não estamos restringindo apenas a roupa, o conceito está na maquiagem, no cabelo que foi escolhido a dedo para o desfile ou campanha, nos acessórios, e principalmente na linguagem visual/consumidor final, ou seja, como tudo isso vai ser transmitido ao público no pós-desfile, porque é ai que pesa o lado comercial, onde o conceito será vendido, seja ele através de publicações em revistas, vídeos, que quase podemos chamar de filmes, pelas produções complexas e de longa duração (são muito comuns hoje em dia), layout das lojas, geralmente adaptado ao conceito e o próprio site da marca que muda em função disso. Além disso, a valorização da coleção bem como do desfile dá uma projeção não só ao designer, mas às modelos, maquiadores, cabeleireiros, fotógrafos, diretores de arte, enfim, a toda equipe envolvida na apresentação da marca.

Na década de 60, essa forma de expressão espalhou-se pelo mundo inteiro e resultou em vários movimentos artísticos e muito tem influenciado a arte contemporânea. Entretanto, desde Marcel Duchamp (pintor francês, 1887 – 1968), no início do século passado, podem ser percebidos os primeiros indícios da sobrevalorização do conceito.
A escola de arquitetura, design e artes plasticas alemã Bauhaus (1919) combatia a arte pela arte e estimulava a livre criação afim de ressaltar a personalidade do homem. Foi sem dúvida uma grande responsável pelo desenvolvimento dessa forma de arte.


Alguns estilistas brasileiros realizam desfiles conceituais. Em especial, o desfile de Jum Nakao em junho de 2004, entrou para história da moda brasileira. Em um dos mais emocionantes desfiles conceituais de nossa história, roupas extremamente trabalhadas e feitas em papel vegetal foram destruídas em plena passarela, ao final do desfile . O estilista questiona os valores da sociedade capitalista demonstrando o caráter absolutamente descartável da roupa.






Mas o conceito também pode ser demonstrado de uma forma mais comercial, através de temas, onde o designer evidencia a roupa e não a idéia. Ainda assim, ele pode expor a idéia em um catálogo ou outdoor conceituando dessa forma a sua coleção e causando curiosidade nas pessoas.

E ultimamente o que temos visto é este tipo de conceito comercial, pois as pessoas ou não entendem e não geram audiência para este tipo de evento ou simplesmente não querem perder tempo com isso, pois hoje tudo é muito mais prático e objetivo. O conceito deve estar intrínseco na roupa, sem que se sobressaia e acabe tornando a roupa uma espécie de fantasia, onde é apenas usada nos desfiles ou por pessoas extravagantes.

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